Salvem os porquinhos! Viva a Socopo!
Antigamente, era até mais fácil encher o cofrinho

Abaixo os porquinhos! Tirem eles daqui!
Se eu tivesse que organizar uma passeata, acho que essa seria uma delas. Já até vejo os cartazes feitos à mão, as caras pintadas, as faixas de protesto: “Porquinho, aqui não!” Mas calma, nada contra os porcos de verdade. Deixem eles lá na natureza, cumprindo bem o papel deles. Meu problema é com os porquinhos de argila.
Digo “porquinho de argila” por costume, né? Tem cofre de abelha, avião, bola, metal, plástico… uma infinidade de formatos, mas o que ficou mesmo marcado foi o porquinho. Coitados dos suínos.
Diz a internet que, a cada novo porquinho dado a uma criança, um panda se vai.
Sei que a intenção é das melhores: ensinar a guardar dinheiro, criar uma poupança em casa, fazer a criança pensar no dinheiro de forma lúdica. Mas nem sempre boas intenções geram os resultados esperados na prática. Quando o assunto é guardar dinheiro no porquinho, vejo alguns possíveis problemas.
Vamos começar pelo conceito da coisa. O porquinho, cofrinho ou o que quer que seja, geralmente se parece mais com uma caixa misteriosa. A criança é incentivada a encher aquilo ali sem fazer ideia do quanto tem ou do quanto falta — só sabe se está pesado ou não.
Antigamente, era até mais fácil encher o cofrinho. Os pais davam algumas cédulas, o troco da padaria, as moedas do dia a dia. Mas hoje? Cédula virou artigo raro, moeda então… Acho que isso ajudou os porquinhos a saírem de cena. Vitória da Socopo, a nossa Sociedade Organizada Contra os Porquinhos!
Mas voltando ao conceito, essa não é exatamente a melhor maneira de introduzir a educação financeira. E olha que eu também fui criado à base de porquinhos! Lembro da alegria de vê-lo cada vez mais pesado. Ele ajuda a guardar, incentiva a juntar dinheiro e cria um apego enorme.
Afinal, como saber o que tem ali dentro? A resposta é simples: basta quebrar. E era uma festa! Marteladas para todo lado, argila se desfazendo em pedaços, moedas espalhadas no chão… geralmente, um belo momento em família.
Mas se a intenção é ensinar a criança a lidar com o dinheiro e se preparar para a vida adulta, esse exemplo não é dos melhores. Vejamos:
- O porquinho esconde o dinheiro, então você nunca sabe exatamente quanto tem.
- Para pegar o dinheiro, tem que quebrar tudo.
- E se, ao quebrar, descobrir que ainda não tem o valor necessário para comprar o que queria?
- E se tiver a mais, vai fazer o que com o restante? Guardar onde?
A grande mudança na relação financeira acontece quando as pessoas passam a ter controle sobre o próprio dinheiro. Entender os gastos, saber quanto se tem, o que falta para atingir um objetivo e como chegar lá. Esse domínio muda a perspectiva — e digo isso com base na reação dos clientes quando chegam nesse ponto.
Sabendo disso, não seria melhor iniciar esse aprendizado na infância? Como fazer isso se a forma mais tradicional de incentivar esconde o dinheiro ao invés de torná-lo mais evidente?
Entre não ter nada e ter um porquinho, melhor fazer alguma coisa. Mas se há um passo além, vale a pena considerar essa nova visão.
E qual seria esse passo, Raphael?
Olha, a relação com o dinheiro exige cuidado na hora de dar dicas e orientações. Quando se trata de crianças, esse cuidado deve ser ainda maior, respeitando a realidade e o desenvolvimento de cada uma.
Para ajudar nesse processo, hoje temos bancos digitais que permitem a criação de contas infantis com facilidade. Dá para fazer com elas o que a gente se acostumou a fazer com os porquinhos:
O troco? Um valor fixo mensal? Semanal? Um presente? Transfere para a conta. Lá, a criança pode definir objetivos, ver quanto tem, quanto falta, transferir, sacar, juntar, fazer render… É o cofrinho da vida moderna.
Inclusive, este texto já estava pronto quando aconteceu algo que ilustra bem os benefícios de deixar o dinheiro visível e acessível. No último sábado, o Bahia lançou mais uma camisa, e Pedro – para surpresa de zero pessoas – logo se animou para ter mais uma. Foi quando ocorreu o seguinte diálogo:
– Pai, quero a camisa nova do Bahia
– Agora não dá pra comprar, Peu.
– Quero comprar com meu dinheiro. Quanto eu tenho?
– Tem x na conta.
– Quanto é a camisa?
– É R$ 299.
– Se eu comprar, vou ficar com quanto na conta?
– Vai ficar com x – R$ 299.
– Então tá bom. Vou comprar.
Fomos pro jogo com ele animado para comprar a camisa com o próprio dinheiro. Chegou na loja feliz, falou com a atendente, pegou a camisa, experimentou e foi pro caixa. Com desconto por ser sócio e por pagar no pix, a camisa saiu por R$ 239. Ainda se deu bem com 20% de desconto. Agora, se o dinheiro estivesse dentro de um objeto de argila, em qualquer formato que seja, com apenas um buraquinho na parte superior, ele conseguiria realizar o desejo assim?
Pois é. Depois disso, só tenho uma coisa a dizer:
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