Quebrando correntes: atenção primária à saúde mental é tema de evento realizado pela UNIFACS e INSPIRALI em Salvador

Missionária e médica canadense, pioneira na especialização em Medicina de Família e Comunidade, Irmã Monique Marie Marthe Bourget, e Grégoire Ahongbonon, importante ativista em desmistificar doenças mentais na África vieram do Benin, para participar de programação na Bahia

Quebrando correntes: atenção primária à saúde mental é tema de evento realizado pela UNIFACS e INSPIRALI em Salvador
Crédito: Israel Fagundes

Durante os dias 21 e 22 de novembro, a INSPIRALI e a UNIFACS realizaram uma programação intensa e enriquecedora, que visou promover o fortalecimento dos laços entre a comunidade acadêmica e importantes representantes da cultura afro-brasileira, como a Casa do Benin e a Associação Baiana de Medicina. A ação realizada em parceria com a Casa do Benin, além da Prefeitura de Salvador e da Associação Baiana de Medicina, promoveu a troca de conhecimentos, além de temáticas humanitárias no currículo como essencial para formar médicos.

As atividades planejadas incluíram palestras, visitas e interações, onde temas relevantes sobre a cultura afro-brasileira, saúde e questões sociais foram discutidos. Além disso, a programação contou com visitas culturais a lugares históricos que marcam a rica herança africana presente na Bahia.

De acordo com Paulo Jesuíno, Diretor INSPIRALI Nordeste, este evento buscou promover o diálogo e a troca de conhecimentos. “Tem sido uma experiência incrível essa parceria que nós estamos tendo, a INSPIRALI com Benin. As pessoas com doenças mentais lá em Benin são tratadas como se tivessem possuídas. A população acredita que não é uma doença, por isso são presos e acorrentados. Vivem há anos sem nenhum cuidado, sem dignidade”.

Para a Diretora da UNIFACS, Annita Souza, a promoção da saúde é um desafio que exige uma visão multidisciplinar, considerando fatores sociais, econômicos e culturais. Assim, é fundamental que a academia se envolva ativamente em diálogos que fortaleçam a formação de médicos capacitados a atuar em diversas realidades, promovendo a equidade e o acesso à saúde. “Este evento pôde proporcionar espaços para compartilhar experiências práticas e desenvolver competências que vão além do currículo tradicional, um passo importante para formar profissionais comprometidos com a transformação social e a melhoria da qualidade de vida das comunidades”, afirma.

Uma das principais agendas aconteceu na noite da quinta-feira (21), no auditório da instituição, no Campus da Paralela, com a palestra “Bahia-Benin: Conexões Históricas e perspectivas para a Medicina de Família e Comunidade e Saúde Mental na prática médica atual”, com a participação da Irmã Monique, missionária religiosa, médica, criadora de uma ONG de saúde para Benin e de Grégoire Ahongbonon, cidadão Beninense, responsável pela criação de diversos centros de tratamento de doenças mentais espalhados por três países africanos sendo o principal Benin.

Ahongbonon se dedicou por mais de 30 anos em desmistificar as doenças mentais e organizar serviços psiquiátricos contemporâneos para pessoas necessitadas em toda a África Ocidental. O cidadão Beninense elucidou em sua palestra que após lutar e se recuperar da depressão foi inspirado a ajudar outras pessoas. “Eu era como esses doentes. Vocês ouviram que que quase me suicidei, eu saí do buraco. Hoje eu vivo uma coisa que é maior do que eu, mais forte do que eu, por isso devemos mudar nosso olhar sobre as pessoas fragilizadas, pois tudo isso é sobre humanidade”.

A presença da comitiva do Benin simbolizou o potencial transformador da cooperação internacional. Os convidados presentes ressaltaram a relevância do intercâmbio de saberes, com destaque para o debate sobre educação e saúde. Essa troca reforça o compromisso de ambas as nações com o avanço das políticas públicas voltadas para o bem-estar mental das populações.

O Médico Psiquiatra, professor e coordenador de grande área do Internato de Saúde Mental da UNIFACS, Ivan Araújo, destacou a importância em enaltecer a dignidade humana e que falar sobre saúde mental é um cuidado básico e intrínseco a todos. “Nesse momento estamos acessando o porquê escolhemos fazer carreira na saúde, para expressar e lutar pela dignidade humana. Enquanto a gente pode fazer planos de vida, tem pessoas que só passam pela trajetória na Terra e fazem planos de sobrevivência”.

Crédito: Israel Fagundes

O impacto da Missão África na formação acadêmica

O coordenador Paulo Jesuíno destacou a importante participação dos alunos no projeto, fortalecendo a formação acadêmica da comunidade universitária, com ricas trocas de experiências. “Os nossos alunos e alunas tiveram a oportunidade de vivenciar isso, de poder ver então esse impacto em relação à saúde. Não é uma questão apenas de você ter recursos, de ter tecnologia, de ter remédio, mas sim de se doar através de um aperto de mão, um abraço e um olhar. Criar uma rede de carinho, de afeto, principalmente para acolher, para fazer com que essas pessoas que são invisíveis à sociedade, se tornem pessoas visíveis, pessoas dignas, pessoas humanas. Então eu acho que esse é o é o maior, o maior resultado que a gente colhe”.

Durante o evento, a estudante de medicina Priscila Alckimin compartilhou a marcante experiência de sua participação na Missão África, onde atuou diretamente na atenção primária à saúde. Em seu relato, ela incentivou os alunos a se engajarem nos comitês de saúde da família, destacando a importância do voluntariado como ferramenta de transformação. “Quando a gente escolhe ser voluntário, vai com a intenção de ser grande, de fazer a diferença. Mas, ao chegar em lugares como a África, percebemos o quanto podemos ser impotentes diante de tantos desafios. Isso fez valorizar ainda mais a nossa realidade, nem sempre vai conseguir mudar o mundo que a gente quer, mas nós somos mudados por esse mundo de conhecimento que conseguimos viver nas missões comunitárias”, refletiu.

Priscila também comentou sobre as dificuldades emocionais de não conseguir fazer mais em meio a realidades tão complexas, mas destacou o aprendizado significativo que essas experiências proporcionam, ampliando sua visão sobre os desafios e as possibilidades no campo da saúde global.

Visita à Casa Benin

Na sexta-feira (22), todos os envolvidos fizeram uma visita à Casa do Benin, em Salvador, com a participação de representantes de saúde do município e de parceiros do curso de medicina, promovendo um espaço rico para troca de experiências e construção de conhecimento.

A Irmã Monique Marie Marthe Bourget ressaltou a importância do estreitamento de laços entre o Brasil e Benin para o entendimento das raízes e heranças compartilhadas entre os dois locais. “O Brasil tem uma dívida moral. Hoje, Benin está lá embaixo na lista de IDH, e o Brasil pode contribuir muito para este desenvolvimento. Ao mesmo tempo que o Benin pode trazer muito da questão da história, a felicidade, a alegria, a dança. Essa nossa visita pode estimular estes intercâmbios a serem maiores”.

Para encerrar o evento, foi realizado um almoço integrativo com a presença da Associação Baiana de Medicina, Conselho de Medicina, parceiros da Prefeitura Municipal de Salvador através da Secretaria de Saúde, alunos e professores de Medicina da UNIFACS.

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