Salvador Capital Afro leva arte, empreendedorismo e ancestralidade à Ilha de Maré em dia histórico
Oficinas, ações culturais e formação empreendedora mobilizaram estudantes, quilombolas e artistas em uma programação que valorizou identidade, pertencimento e economia local.

O projeto Salvador Capital Afro realizou, nesta quinta-feira (27), uma edição especial do seu circuito de formações e ações culturais na Escola Municipal de Ilha de Maré, em Praia Grande. A iniciativa, que desde o início de novembro tem percorrido diversos territórios da cidade, chegou pela primeira vez ao tradicional território quilombola, levando um dia inteiro de atividades voltadas para arte, educação, empreendedorismo e fortalecimento da identidade negra.
A programação variada reuniu estudantes, educadores, artistas, empreendedores e moradores da comunidade. Entre as atividades oferecidas estiveram oficinas de graffiti, percussão, dança afro, atendimento do SAC do Empreendedor, formação empreendedora e ações pedagógicas sobre direitos da infância.
Arte que fortalece pertencimento
Logo no início da manhã, o artista Marcos Costa – conhecido como Spray Cabuloso – conduziu a oficina de graffiti, que culminou na criação de um painel coletivo inspirado no cotidiano da ilha. O mural destacou elementos como a mariscagem, o mar e a travessia para o continente.
Segundo o artista, o impacto da atividade vai muito além da estética:
“Eles se reconhecem nesse mural. Descobrem que conseguem desenhar em grande escala. É uma semente para que futuros artistas saiam daqui”, afirmou Spray Cabuloso.
Enquanto isso, outras turmas participaram de atividades empreendedoras com a pedagoga Vanessa Luz, da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult). A imersão do programa AfroEstima apresentou técnicas essenciais para impulsionar negócios locais, como precificação, apresentação de produtos e estratégias de vendas. Vanessa destacou que a troca com a comunidade foi enriquecedora:
“Cada território tem sua dinâmica. Em Ilha de Maré, aprendemos enquanto ensinávamos. As especificidades da ilha influenciam diretamente o trabalho de quem empreende aqui”, explicou.
Identidade quilombola como potência
Para a Escola Municipal de Ilha de Maré, a ação dialogou diretamente com o projeto pedagógico da unidade. A coordenadora Ana Lídia destacou que as atividades reforçam valores fundamentais para os estudantes.
“Nosso trabalho é pautado em ancestralidade, identidade e resistência. Essas ações fortalecem a autoestima das crianças e o orgulho de serem pretos, pretas e quilombolas”, afirmou.
O impacto emocional também foi evidente entre os alunos. Sofia do Couto, de 12 anos, disse ter se sentido representada durante as oficinas:
“Gostei muito da pintura. Me senti bonita e representada”, contou.
Durante a manhã, também aconteceu a atividade educativa “O ECA vai à escola – Racismo não é bullying”, realizada em parceria com a SPMJ, reforçando a importância da proteção e dos direitos das crianças e adolescentes.
Tarde de ritmos e ancestralidade com o Malê Debalê
À tarde, o pátio da escola se transformou em espaço de dança e música com as oficinas do Malê Debalê, que mobilizaram dezenas de estudantes. A professora Juliette Ribeiro, ex-aluna do Malezinho e hoje integrante do balé afro, destacou a simbologia do momento:
“Voltar a um território quilombola fortalece o pertencimento. Eu comecei como elas. É importante que essas crianças saibam que podem sonhar, viajar e transformar suas vidas.”
A estudante Sofia Moraes, também de 12 anos, reforçou a importância da representatividade:
“Foi tudo lindo. As meninas se parecem comigo, são todas negras. Aqui a gente vê o nosso povo”, disse emocionada.
O dia terminou com apresentações musicais do grupo Marésom e do próprio Malê Debalê, reunindo a comunidade em uma celebração marcada por alegria e ancestralidade.
Economia local fortalecida
Além das ações culturais, o Salvador Capital Afro também gerou impacto econômico direto no território. Moradores da ilha foram contratados para fornecer alimentação durante todo o dia, garantindo que parte dos recursos do projeto permanecesse na comunidade — uma diretriz estratégica da Secult, que busca descentralizar oportunidades e valorizar saberes tradicionais.
A chegada do projeto à Ilha de Maré reforça o compromisso de reconhecer, celebrar e fortalecer as práticas culturais e empreendedoras produzidas nos bairros periféricos e ilhas de Salvador.



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