Novo estudo mostra como El Niño afeta diretamente a pesca

Pesquisa internacional revela como o El Niño e a La Niña influenciam a pesca no Atlântico, afetando estoques de peixes e crustáceos na América do Sul e na África

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Novo estudo mostra como El Niño afeta diretamente a pesca
Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil

Um estudo publicado na última quinta-feira (18) na revista científica Nature Reviews Earth & Environment amplia a compreensão sobre os impactos do El Niño–Oscilação Sul (ENOS) na pesca do Oceano Atlântico. De acordo com os pesquisadores, o fenômeno climático pode determinar se a atividade pesqueira aumenta ou diminui em diferentes regiões da África e da América do Sul, incluindo o Brasil.

O ENOS é caracterizado pela alternância entre o aquecimento (El Niño) e o resfriamento (La Niña) das águas do Oceano Pacífico, associado a mudanças na pressão atmosférica e na circulação oceânica e atmosférica. Embora tenha origem no Pacífico, seus efeitos se estendem de forma global, influenciando também o Atlântico.

A pesquisa reúne evidências científicas de que o ENOS altera padrões de chuva, ventos, temperatura, salinidade e a descarga de grandes rios. Essas mudanças afetam a disponibilidade de nutrientes e oxigênio no oceano, impactando o fitoplâncton — base da cadeia alimentar marinha — e, consequentemente, a abundância de peixes e crustáceos de interesse comercial.

No Norte do Brasil, o El Niño atua pela via tropical e está associado à redução das chuvas na Amazônia, como observado em 2023 e 2024. Com menos chuvas, diminui a pluma do rio Amazonas, responsável por levar nutrientes essenciais à costa das regiões Norte e Nordeste.

“Essa pluma contém nutrientes que sustentam a base da cadeia alimentar marinha”, explica a professora Regina Rodrigues, da Universidade Federal de Santa Catarina, uma das autoras do estudo.

A redução desse aporte pode prejudicar a produtividade pesqueira em algumas áreas. Por outro lado, pode favorecer a captura do camarão marrom, que se beneficia da menor turbidez da água e da maior incidência de radiação solar.

Já no Sul do Brasil, o El Niño atua pela via extratropical e está associado ao aumento das chuvas, como ocorreu no Rio Grande do Sul em 2024. O maior volume de água doce e nutrientes pode favorecer a pesca de determinadas espécies. No Atlântico Sul central, o fenômeno também está relacionado ao aumento da captura da albacora, um tipo de atum amplamente explorado comercialmente.

Os pesquisadores ressaltam que os impactos do ENOS não são homogêneos e variam conforme a espécie, a região, a estação do ano e o período analisado. Segundo Ronaldo Angelini, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e coautor do artigo, o objetivo da pesquisa é integrar processos físicos, biogeoquímicos e ecológicos para explicar essas variações.

“Essa abordagem ajuda a entender por que os efeitos do El Niño sobre a pesca nem sempre são lineares ou previsíveis”, afirma Angelini, especialmente em um contexto de mudanças climáticas que tendem a intensificar a frequência e a força do fenômeno.

O estudo também aponta lacunas importantes no conhecimento científico, como a falta de séries históricas consistentes de dados pesqueiros e limitações das observações por satélite. Para os autores, ampliar o monitoramento oceânico de forma coordenada e internacional é essencial para aprimorar previsões e estratégias de manejo.

Resultado de um projeto financiado pela União Europeia, com participação de instituições da Europa, África e Brasil, a pesquisa conclui que não existe uma resposta única do Oceano Atlântico ao ENOS. Isso reforça a necessidade de políticas de gestão pesqueira adaptadas às realidades locais e às comunidades que dependem diretamente dos recursos marinhos.

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