Morre Mãe Carmem, ialorixá do Terreiro do Gantois e guardiã de um dos maiores símbolos da fé afro-brasileira
Líder religiosa comandava o Terreiro do Gantois desde 2002 e era filha de Mãe Menininha, símbolo do candomblé no Brasil

Morreu na madrugada desta sexta-feira (26), em Salvador, Mãe Carmem, ialorixá que esteve à frente do Ilé Ìyá Omi Àṣẹ Ìyámase, conhecido popularmente como Terreiro do Gantois, um dos mais antigos e importantes terreiros de candomblé do Brasil, fundado em 1849. A líder religiosa tinha 96 anos e completaria 97 na próxima segunda-feira (29).
Filha mais nova de Mãe Menininha do Gantois, Mãe Carmem estava internada há cerca de duas semanas no Hospital Português, na capital baiana, onde tratava complicações causadas por uma forte gripe.
Nascida em 29 de dezembro de 1928, com o nome de Carmem Oliveira da Silva, a ialorixá era conhecida no candomblé como Mãe Carmen de Oxaguian. Iniciada na religião ainda na infância, aos 7 anos de idade, ela construiu uma trajetória marcada pela dedicação espiritual, pelo compromisso com a preservação das tradições e pelo diálogo com a sociedade.
Mãe Carmem foi a quinta ialorixá a comandar o Terreiro do Gantois, assumindo a liderança em 2002. Ao longo de mais de duas décadas à frente da casa, tornou-se a guardiã de um dos pilares da espiritualidade afro-brasileira, dando continuidade ao legado deixado por sua mãe, Mãe Menininha, referência mundial do candomblé e símbolo de resistência religiosa.
Além da atuação religiosa, Mãe Carmem teve papel fundamental em ações socioeducativas desenvolvidas junto à comunidade do Gantois. Seu trabalho extrapolava os limites do terreiro e alcançava crianças, jovens e adultos por meio de iniciativas voltadas à educação, inclusão social e fortalecimento da identidade cultural.
No campo cultural, a ialorixá promoveu ações de valorização e acessibilidade à memória da religiosidade de matriz africana na Bahia. Sob sua liderança, foram realizados cursos de ritmos e toques do candomblé, dança, bordados tradicionais e outras atividades voltadas à preservação dos saberes ancestrais, fortalecendo a transmissão do conhecimento entre gerações.
A importância de Mãe Carmem também foi reconhecida no universo artístico e cultural. Em agosto de 2011, ela foi homenageada com a música “A Força do Gantois”, composta pelo sambista Nelson Rufino, celebrando sua trajetória e a relevância histórica do terreiro para a cultura baiana.
Pelo trabalho em defesa da diversidade cultural, da preservação das tradições e do diálogo inter-religioso, Mãe Carmem recebeu, em maio de 2010, a “Medalha dos 5 Continentes ou da Diversidade Cultural”, comenda concedida pela Unesco. O reconhecimento internacional reforçou a dimensão do seu legado e a importância do Terreiro do Gantois como patrimônio cultural e espiritual.



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