LABELS: NOVOS CAMINHOS PARA OS ARTISTAS
Uma Nova Era na Música Brasileira

POR MURILO FRÓES
No universo da música brasileira, um fenômeno vem ganhando força e conquistando o público de forma exponencial: as labels. Mais do que shows, elas são experiências completas, com identidade própria, atmosfera imersiva e, principalmente, um propósito. São projetos que nascem da mente e da trajetória do artista, mas crescem ao ponto de se tornarem maiores do que ele individualmente.
Exemplos não faltam: “Numanice”, de Ludmilla, e “Tardezinha”, de Thiaguinho, são dois grandes cases de labels que não apenas se tornaram sucesso de público, mas também plataformas de reposicionamento artístico, expansão comercial e conexão afetiva com seus fãs. Cada uma com sua estética, proposta e formato, mas todas com um ponto em comum: oferecem ao público não apenas um show, mas uma vivência que vai além da música.
Embora o termo label tenha se popularizado nos últimos anos, o conceito já existia de forma intuitiva em projetos anteriores — como o Sarau du Brown, criado em 2008 por Carlinhos Brown e Cláudia Lima, então empresária do artista. Pensado como uma experiência artística completa, o Sarau reunia música, performance, dança, moda, cenografia e elementos da cultura afro-baiana com sofisticação estética e narrativa para a época. Brown, com sua visão artística vanguardista, construiu uma verdadeira celebração de identidade e arte ao ar livre, conectando tradição, experimentação e espetáculo de forma inovadora. Cláudia Lima, co-criadora do projeto, foi também peça decisiva em sua estrutura e consolidação: sua visão estratégica de negócios, gestão afiada e articulação comercial impulsionaram o Sarau com força. Ela soube estruturar o evento como um produto sólido, culturalmente potente e comercialmente viável — com parcerias, formatos e posicionamentos que abriram caminho para o firmamento do projeto como referência no verão baiano. Era, em todos os sentidos, uma label: artística, conceitual e comercialmente falando. Só não viajava para outras cidades — mas tinha pleno potencial para escalar nacionalmente. Naquele tempo, ainda não se usava o termo “label“, mas o Sarau já apontava esse caminho — mostrando a visão empreendedora de Brown e Cláudia Lima, que enxergaram no verão soteropolitano uma vitrine para inovação artística e comercial.
Mais recentemente, Ivete Sangalo, também moldada nos palcos e celebrações populares dos verões de Salvador, lançou sua própria label: Ivete Clareou, dedicada ao samba. O projeto mergulha em um gênero que faz parte da essência da cantora — algo que está em sua formação artística, memória afetiva e em sua verdade como intérprete e autora. E verdade, no palco, é o ponto de partida para qualquer grande sucesso. Com uma carreira consolidada como das maiores e mais respeitadas artistas do Brasil, Ivete dá mais um passo certeiro, expandindo seu universo artístico com uma proposta nova, elegante e popular ao mesmo tempo. A expectativa é de mais um grande sucesso em sua trajetória.
As labels também representam uma transformação considerável na lógica comercial dos shows. Enquanto uma apresentação tradicional é centrada na figura do artista e seu repertório, a label é uma plataforma mais ampla, com identidade visual própria, experiências integradas e possibilidades de desdobramentos que vão muito além do palco. Isso torna o formato mais atrativo para marcas, patrocinadores e parceiros, porque oferece um território narrativo mais sólido, com alto poder de engajamento e conexão emocional. Elas permitem gerar subprodutos valiosos: colaborações com marcas de moda, drops exclusivos (lançamentos limitados e personalizados), produtos físicos colecionáveis, trilhas sonoras, documentários, parcerias audiovisuais e até roteiros turísticos (com pacotes de viagem temáticos que acompanham turnês e edições especiais em diferentes cidades). Tudo isso orbitando um conceito forte, reconhecível e desejado.
Para o público, é muito mais do que um evento — é um território simbólico, uma experiência que convida à imersão. Ir à Tardezinha é reviver o pagode de uma geração com elegância, sob o pôr do sol, cercado de amigos. No Numanice, o samba ganha corpo com estética pop, sofisticação visual e protagonismo feminino. Há toda uma liturgia envolvida: como se vestir, com quem ir, como registrar o momento. É uma memória construída em comunidade. Mesmo quando o artista não está presente fisicamente, como em edições licenciadas ou versões especiais com convidados, a marca da label é forte o suficiente para sustentar o evento. O público não consome apenas um nome: consome um estilo, uma proposta, um clima.
Longe de reduzir a força do artista, ela potencializa sua presença e reposiciona sua imagem. Thiaguinho, com a sua expandiu seu público, aprofundou sua conexão com a memória afetiva de uma geração e consolidou sua marca como um dos nomes mais respeitados da música brasileira. O projeto gerou turnê nacional, documentário na Globoplay e o icônico show no Maracanã, transformando o artista em símbolo de celebração e sofisticação popular. Já Ludmilla, reinventou sua narrativa musical ao mostrar domínio no samba, ampliar sua estética e criar um projeto que é, hoje, um dos mais valiosos da música brasileira contemporânea.
As labels representam, mais do que uma tendência, uma resposta alinhada a um novo modelo de consumo cultural. Em um cenário em que o público busca viver experiências — e não apenas assistir a shows —, artistas que constroem universos e transformam conceitos em produtos, ritos de vivência, têm muito mais chances de se conectar com profundidade, gerar valor de marca e criar movimentos duradouros.
Comentários:
Muito bom 👏👏👏