Idosa resgatada após 50 anos de escravidão em Itabuna teve filho roubado pós parto
Mulher foi mantida em regime de escravidão por mais de cinco décadas em Itabuna (BA), teve seu filho tirado à força e pensão roubada pelas empregadoras

Uma mulher de 64 anos foi resgatada de uma casa em Itabuna, no sul da Bahia, onde viveu por mais de 50 anos em condições análogas à escravidão. O caso, que ganhou repercussão nacional, envolve graves violações de direitos humanos, como o roubo da pensão da vítima e a separação forçada do filho recém-nascido, entregue a terceiros sem seu consentimento.
O resgate foi realizado em uma operação conjunta do Ministério Público do Trabalho (MPT), da Auditoria Fiscal do Trabalho e da Defensoria Pública da União (DPU), no dia 25 de agosto. A idosa estava debilitada, sem dentes, com ferimentos na perna e vivendo sob maus-tratos. Segundo os auditores, ela era proibida de sair de casa e trabalhava em tempo integral, sem receber salário ou qualquer benefício legal.
De acordo com as investigações do MPT, a vítima começou a trabalhar para a família das empregadoras quando tinha apenas 14 anos. Inicialmente contratada pelo avô de uma das mulheres, foi “passada” de geração em geração, permanecendo como empregada doméstica por mais de cinco décadas sem qualquer vínculo formal.
Durante a vida adulta, ela engravidou de um vizinho da família e, após o parto, foi impedida de criar o filho. O bebê foi entregue a terceiros pelas patroas, e o paradeiro da criança ainda é desconhecido. Mesmo após a morte do suposto pai da criança, que havia formalizado casamento com a idosa, a situação de abuso continuou. A pensão do INSS, que ela passou a receber, era controlada e desviada pelas empregadoras, sob o argumento de que ela “não sabia lidar com dinheiro”.
O caso veio à tona após denúncias anônimas e foi classificado pelas autoridades como um exemplo extremo de escravidão moderna no Brasil. Apesar da gravidade, as responsáveis alegam dificuldades financeiras e não chegaram a um acordo durante a primeira audiência de conciliação com o MPT, realizada no último dia 25. Uma nova audiência está marcada para o dia 29 de agosto.
A vítima está sob cuidados da rede de assistência social e passou por atendimentos médicos e psicológicos. Segundo os profissionais envolvidos, a expectativa é garantir o restabelecimento do benefício da pensão e assegurar moradia digna para que ela possa reconstruir sua vida com autonomia e segurança.
O Ministério Público do Trabalho segue apurando responsabilidades e pode ingressar com ação civil pública caso não haja acordo com as envolvidas.
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