Hora de arrumar a mala

Confira mais uma coluna de Raphael Carneiro Falando de Dinheiro

Hora de arrumar a mala

Talvez um dos momentos que mais geram ansiedade na hora de uma viagem seja quando temos que fazer a mala. Arrumar aquilo que será levado e utilizado durante os dias de viagem pode ser uma arte. Seja uma viagem longa ou apenas alguns dias na casa de praia. Cada pessoa tem seu estilo e suas prioridades.

“Ah, mas pra mim é super tranquilo, Raphael”. Sim, eu sei, você não tem problema com isso. Pedro também não. Se eu falo para ele arrumar a mala, ele vai na gaveta que tem camisas de times, pega todas as camisas do Bahia – outro dia ele contou e eram 11 -, algumas cuecas, alguns shorts, joga na mochila, fecha e diz que está pronto para viajar. O conteúdo da mala vai ser o mesmo se formos pra praia, uma fazenda, pra neve. Dois dias ou um mês inteiro. Pouco importa.

Até aqui, o privilégio masculino mostra suas caras. Para nós, homens, é muito mais fácil. No geral, conta os dias de viagens, coloca duas bermudas e duas camisas a mais, algumas cuecas a mais, desodorante, perfume e escova de dentes. A mala está pronta.

Mas, para as mulheres, há toda uma engenharia. Qual o destino? Vai sair de noite? Não vai sair? Faz frio? Calor? Quantos dias? Uma logística bem mais trabalhosa. Uma preocupação maior.

Isso acontece porque não conseguimos prever como será a viagem. Vai fazer sol todo dia? Faz frio? O calor vai aumentar? E se chover? Se for um lugar de praia, mas tiver uma frente fria, tenho roupa para isso?

Ao escolher quais peças de roupa passarão pelo amassa-e-desamassa da mala, tentamos nos preparar para os cenários possíveis durante aqueles dias.

Não viajamos levando todo o armário na mala para depois ver o que vai acontecer. A gente tenta projetar o que vem pela frente. Às vezes acerta, às vezes erra. A maior parte das pessoas que conheço consegue se dar bem nessa previsão. Pega uma dica aqui, uma pesquisada ali, olha a previsão do tempo, faz o roteiro da viagem e pronto. A mala está organizada.

É um exercício que fazemos sempre olhando para frente. E, quanto mais fazemos, mais prático fica. A repetição torna tudo mais fácil.

E, não vou mentir, você sabe que essa conversa sobre viagem é só pra criar aquela introdução e te preparar para o que quero falar mesmo, né? Então vamos lá.

Assim como no caso de arrumar a mala, o que também precisamos fazer olhando para frente é aquilo que chamo de método de acompanhamento (faça agora aquela expressão de quem não esperava uma correlação assim nesse momento do texto).

O método de acompanhamento é a ferramenta que utilizamos para entender nosso mês. Há quem faça no papel, no bloco de notas, em uma planilha ou até em conversas privadas no celular… O local não importa tanto. O cuidado deve estar na forma como é feito.

A intenção tem que ser sempre como a arrumação da mala: olhar para frente. Mas estamos acostumados a fazer um exercício diferente. Geralmente, esperamos o último dia do mês, abrimos o extrato da conta ou a fatura do cartão e então jogamos tudo em uma planilha ou aplicativo.

“Vixe, gastei demais esse mês. Mês que vem vai ser diferente”, é o que dizemos antes de repetir tudo.

Lembro de um amigo que comentou comigo que o irmão dele deixava tudo registrado. “Ele tem até hoje a planilha do casamento. Tem mais de dez anos e ele ainda tem a planilha lá”. É aquele tipo de pessoa que se alguém perguntar quanto ela gastava no mercado em 2010, ela vai abrir a planilha e vai responder. Assim, acho até curioso. Dá para ter uma ideia da inflação e de como as coisas mudaram. Mas, falando de efeito prático para o nosso dia a dia, não tem muita utilidade, né?

Isso porque muitos enxergam a organização financeira apenas como um registro do que foi gasto ao longo de um período. Pode ser interessante, mas não nos ajuda no olhar para frente.

O método de acompanhamento será uma ferramenta para nos ajudar na tomada de decisões. Saber o que pode ser feito, como pode ser feito e, tão importante quanto, o impacto de cada ação que teremos. Se comprar algo agora, qual o impacto nas contas daqui a três meses? E se fizer uma viagem, terei que abrir mão de alguma outra coisa? São respostas que podemos ter ao olhar aquela organização financeira.

Assim como na hora de fazer a mala, esse olhar para frente não é tentar adivinhar o que vai acontecer ao longo do mês, quanto vai gastar exatamente em cada item. A ideia é ter uma projeção, um cenário do que poderá ser feito ao longo do mês. Se gastar tanto nisso, o que acontece? E se me permitir viajar mais ao longo do mês? É um exercício que quanto mais a gente faz, melhor ficamos, mais fácil fica.

E esse é um dos exercícios mais importantes ao longo do planejamento financeiro. Tentamos chegar o mais perto possível da realidade para evitar aquela surpresa desagradável no meio do mês. Até porque, mesmo viajando para uma casa de praia, é sempre importante ter um casaco na mala para se precaver durante uma noite chuvosa, não é?

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