Falando de Dinheiro: Torcida, dívidas e o desejo de tudo agora
Para entender por que tanta gente esperava mais, vale voltar um pouco.

O Bahia foi o único time brasileiro eliminado na fase de grupos da Libertadores. Calma! A primeira frase pode ter assustado, mas não voltei ao jornalismo esportivo. Fica por aqui que você vai entender onde quero chegar.
Voltando, o Bahia foi o único time brasileiro eliminado na fase de grupos. A equipe voltou a jogar a Libertadores depois de 35 anos e não resistiu ao chamado “Grupo da Morte”. E aí veio a frustração de muitos torcedores que sonhavam com mais na competição.
Você pode pensar: “Pô, mas não estava há 35 anos sem nem jogar a competição?”. Verdade. Mas se você entende ou não de futebol, deixa explicar de onde veio toda a expectativa.
Para entender por que tanta gente esperava mais, vale voltar um pouco. Em 2022, quando ainda estava na Série B do Brasileiro, o Bahia iniciou uma negociação com o Grupo City. Você deve associar logo o nome do Manchester City, que é o principal clube do grupo. O Grupo City é o chamado MCO. Um conglomerado que é dono de diversos clubes ao redor do mundo. E, em 2023, o Bahia passou a ser um deles.
Lembro que décadas atrás, quando o Bahia estava mal, era comum alguém brincar com “tomara que um sheik venha aqui e compre o clube”. O desejo vinha da esperança de dinheiro farto para melhorar a equipe. Com a lei da SAF e uma grande negociação, a brincadeira virou verdade.
“Na cabeça de muita gente, o Bahia agora tinha dinheiro que não acabava mais. E o que John Textor fez no Botafogo acabou influenciando ainda mais essa percepção. Lá, a primeira coisa feita foi montar um time pra ser campeão. Quase foi em 2023, conseguiu em 2024. “Já que somos do City, vai ser melhor ainda”, imaginaram alguns torcedores.
Mas, a visão do Grupo City é diferente. A ideia não era transformar em um time campeão no primeiro ano, mas permitir um crescimento gradual. Isso exige algo raro no futebol: paciência. Só que o torcedor não quer esperar três, cinco, dez anos. Ele quer a mudança agora. Quer comemorar, quer ver o time mudar de patamar, quer tirar onda com o rival. E quer isso agora.
É um imediatismo que parece estar no ar que a gente respira. No futebol, isso gera problemas. Demissões de treinadores, contratações irresponsáveis, gastos exagerados e uma longa dívida ao longo do tempo. Tudo pelo “quero ser campeão agora”.
Para o torcedor do Bahia, a cultura que o Grupo City traz contrasta com o que estamos acostumados no futebol brasileiro. Claro, isso não exime críticas e queixas de decisões erradas ao longo do processo. Mas a essência do que é pensado, com a evolução ao longo do tempo, com o imediatismo fora da visão, é diferente de tudo o que se vive no futebol brasileiro.
Aliás, não só no futebol.
O imediatismo causa problemas no esporte: endivida clubes, enche o setor jurídico de processos… e também deixa muita gente comum endividada. É um tal de querer celular, computador, tênis, show, viagem, tudo ao mesmo tempo. Esperar? Programar? Organizar? Isso não faz parte do linguajar futebolístico e de muitas vidas financeiras por aí.
A pessoa pode estar com a vida financeira apertada, pode estar devendo, pode estar ali contando os dias para terminar o mês com o dinheiro na conta, mas vive numa dificuldade enorme de programar alguns gastos. Esperar para ter alguma coisa ou para fazer algo é um martírio. Quer tudo aqui e agora. Pra já.
No fim das contas, o imediatismo só embaralha a vida: compromete o orçamento, gera dívidas, traz dor de cabeça. Até concordo que nem sempre é tão prazeroso esperar que as coisas possam acontecer ao longo do tempo. Também queria fazer aquela viagem, pegar um tênis novo e comprar um computador novo esse mês. Mas não dá. Paciência.
Queria também poder comemorar o Bahia avançando de fase em fase na Libertadores. Agora que o sheik veio e comprou, o dinheiro está aí, não é? Não é bem assim.
O caminho pode não ser exatamente como queria, vai ter seus momentos de altos e baixos, mas dá para organizar e fazer a viagem, ter o tênis e o computador aos poucos. Sem me endividar.
Tomara que os títulos venham assim também: no tempo certo, mas de forma sólida — e sem quebrar no caminho.
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