Falando de Dinheiro: Pace Leader
Correr é simples. É só calçar um tênis e sair por aí.

Em algum momento você já deve ter tido uma ideia assim sobre a corrida. Se quis colocá-la em prática, imagino que tenha quebrado a cara. Não é tão simples assim. Existem diversas variáveis. Treino, tipo de tênis, percurso e, muito importante, um ritmo para chamar de seu.
Não é só sair correndo como se não houvesse amanhã. Mas correr a qual condição? Com qual objetivo? Ser um Forest Gump da vida moderna?
Das variáveis, talvez uma das mais difíceis é encontrar um ritmo. E ele vai ser diferente para cada prova. Dez quilômetros é de um jeito, uma meia maratona é de outro, uma maratona tem um novo. Correr no ritmo errado é como chegar numa festa de 15 anos com sunga e boné. Ou ir para o carnaval de terno e gravata. Pode ser até que você dure um pouco, mas vai passar por problemas.
Essa é uma dor de cabeça para corredores iniciantes. Mas não só. Algumas pessoas com quilômetros de rodagem sentem o mesmo problema. Só que tem uma possível ajudinha. Recentemente descobri que em algumas maratonas há uma espécie de “dica” para os corredores. São os “Pace Leaders”. Uma pessoa que serve de farol para quem quer correr, mas ainda não consegue bem ter a noção do seu ritmo.
É difícil manter ou se conhecer assim, então fica um pouco mais fácil (bem mais, na verdade) se tem uma pessoa para seguir.
Serve até para você avaliar como está sua evolução (ou queda) durante a prova. Se estiver bem, tem a chance de alcançar o pace leader seguinte. Mas se estiver mal, com as pernas já sem responder aos comandos, vai ser triste observar um pace leader atrás do outro passando por você.
Vejamos pelo lado positivo: ao menos consegue ter uma noção do que está acontecendo e uma projeção do que vai ser de você até a linha de chegada.
Seria muito mais fácil se pudesse ser assim também com o dinheiro.
Mas como fazer? Uma pessoa para seguir? Sair por aí procurando alguém que ganhe o mesmo e tenha hábitos parecidos pra grudar naquela pessoa? E se não encontrar?
O mais perto disse que consigo com os clientes é mudar um pouco a visão do “quanto gastei” para “quanto posso gastar”. Não é bem um pace leader, mas é um indicativo do que vem pela frente
É uma forma bem simples de se fazer, inclusive. Consigo até mostrar aqui antes que você pense em terminar de correr seu primeiro quilômetro hoje.
Bora lá
Dá para fazer no papel, no word, no paint, no bloco de notas do celular. Dá para fazer onde você se sentir melhor. Separa um espaço em branco e faz uma cruz nele. A ideia é que a gente tenha quatro blocos separados. A imagem vai ficar mais ou menos assim.

Esses quatro blocos são as semanas do mês. Então vamos identificar direitinho e iniciar os trabalhos. Supondo que vamos fazer o exercício no primeiro dia de um mês qualquer, comece colocando quanto tem em sua conta naquele instante. Depois, abaixo, liste o que entra e o que sai de lá (ou do seu bolso) durante a primeira semana.

Por fim, faça os cálculos para saber a previsão de terminar a primeira semana. Conseguimos então ter um Pace Leader para os primeiros sete dias. Só que um mês, assim como uma maratona, não se faz só do quilômetro inicial. Por isso precisamos daquele guia até o final para tentar evitar que tudo desande no meio do caminho.
A tarefa agora não é tão complicada. Garanto que é mais tranquilo que manter o ritmo durante uma corrida inteira. O que você terá de fazer é repetir o exercício pelas três semanas restantes. Sabe o valor de previsão para terminar a primeira semana? Ele vai ser o inicial da segunda. Coloca o que entra e o que sai, soma e chega no valor previsto para terminar a segunda semana.

Agora ficou ainda mais fácil. Repete a mesma tarefa nas duas semanas finais do mês. Pronto. Um mês de previsão em quatro blocos. O que Eduardo Amuri carinhosamente batizou de quadrantes. Que você pode replicar mês após mês parar ter uma visão geral do seu ano.

Essa é uma forma simples de sair da visão do “quanto gastei” para “quanto posso gastar”. Seu pace leader estará ao alcance das mãos.
“Ah, Raphael, mas imprevistos podem acontecer”.
Sem sombra de dúvida. Uma coisa que eu tenho certeza é que eles acontecerão. Mas você vai lidar com eles já tendo um norte. E é assim mesmo.
Seguir um pace leader na maratona não é garantia que vai conseguir terminar tudo bem dentro do prazo. A perna pode doer, você pode tropeçar, o cadarço desamarrar, uma câimbra… São infinitas variáveis. Mas você consegue ter noção de como está por causa de quem está seguindo. Com os quadrantes é o mesmo raciocínio.
Um problema pode surgir aqui ou ali, mas você sabe de onde esta partindo e onde pode chegar. É melhor ter o que seguir do que correr o risco de ser forçado a abandonar a maratona na metade por falta de fôlego. Ou de dinheiro.
Comentários: