Falando de Dinheiro: Não é só sobre querer. É sobre conseguir

É engraçado como a gente pode definir a fase da vida em que estamos pelas perguntas que nos fazem. Parece que vamos avançando de fase no jogo, e os sinais para perceber que mudamos são as perguntas que temos que responder. Principalmente em encontros de família.
Assim vamos desde a infância, ainda na escola, até as questões da vida adulta. Veja bem se a sequência não se parece com essa aqui:
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- Como tá na escola?
- E a namoradinha?
- Vai casar quando?
- Quando vem o filho?
- E o segundo? Vai deixar ele(a) sozinho(a)?
Agora pode marcar um “X” na fase que você está. Brincadeira…. ou não.
Mas acho que toda família tem esse script de perguntas. Se você não responder, não pode passar de fase. Só não ache que vai se livrar do questionamento seguinte. Não dá para pular as fases.
E, no caso das duas últimas perguntas, tem sido cada vez mais comum respostas negativas. O mundo mudou, o comportamento das pessoas mudou, e as perspectivas e objetivos também são outros.
As famílias brasileiras estão diminuindo ao longo das gerações. Quantos avós e bisavós tinham mais de uma dezena de irmãos? E quantas famílias hoje têm mais de dois filhos? Ou até mesmo mais de um?
A relação com a parentalidade mudou. A criação está diferente (ao menos boa parte). Pais e mães trabalham fora de casa, o tempo está mais corrido e, geralmente, dedica-se um tempo maior de cuidado com os filhos. A presença é mais valorizada.
Me peguei nessa reflexão depois de ter recebido um post do Instagram que falava sobre a queda do tamanho das famílias no Brasil. E aí, além de toda a questão da criação, tem um ponto que é simplesmente fundamental: o financeiro.
Quando o dinheiro entra como justificativa para responder ao famoso “quando vem o filho?” ou “e o próximo?”, o argumento pra rebater vem na ponta da língua:
— Ah, mas antigamente também era difícil e todo mundo conseguiu…
É verdade, todo mundo conseguiu. Mas… a vida mudou. E sim, a vida está mais cara.
E não falo mais cara pelo preço das coisas. Talvez para muitas pessoas a condição financeira seja melhor que a dos pais e avós. Possivelmente você e eu tenhamos uma condição melhor agora do que nossos pais ou avôs na mesma idade. E que bom, que continue assim, sinal que estamos evoluindo.
Só que a vida tá mais cara enquanto… vida mesmo.
Temos hoje uma infinidade de necessidades e apetrechos que não existiam antigamente. A TV era só a antena com palha de aço. Agora temos TV a cabo, streamings, assinatura disso, daquilo… A internet chega todo mês na fatura, o celular exige cuidado, seguro, manutenção. Os eletrodomésticos mudaram. Tem combustível, seguro do carro, seguro da casa… E por aí vai.
Gastamos mais para viver. E, a cada dia, criamos (ou criam pra gente) novas necessidades.
Para e pensa: quantos gastos você tem hoje que seus pais ou avós nem imaginavam que existiriam?
Pois é. A vida está mais cara. Muito mais.
E se tornou mais caro viver, mais caro ter um filho. O custo atual – e não quero entrar em números porque as realidades são muito diferentes – é alto. É alto para uma pessoa, para um casal e, mais ainda, pra quem decide ter filhos.
Me lembro de ter ajudado alguns clientes nesse processo de transição: da vida a dois para a chegada de uma nova pessoa. A preparação, organização das contas, projeção do que vai ser, aumento da reserva, novos planos, novas prioridades. Não é uma tarefa fácil. O custo aumenta, algumas coisas precisam ficar de lado.
E se, planejando, já não é fácil… imagina quando não se espera. O baque costuma ser grande. As consequências, muitas vezes, bem mais traumáticas.
É certo que a tendência é que continuemos a trazer mais custos básicos para nossa vida. Tem sido assim com o passar do tempo. É certo também que as perguntas continuarão a ser feitas. E as respostas nem sempre agradarão quem questiona.
Alguns podem chamar de egoísta essa decisão de não ter filhos ou ter apenas um. Vai do que cada um pensa para sua vida. Mas pare para pensar que talvez essa seja uma decisão de sobrevivência. E de tranquilidade.
Afinal, ter filhos hoje não é apenas uma questão de amor – é também uma questão de planejamento financeiro consciente.
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