Falando de Dinheiro: Em tempos de IA, papel e caneta na mão

Estar em um engarrafamento dirigindo é daquelas coisas que estão no topo da lista do que há de mais chato para acontecer no dia. Mas estar no mesmo engarrafamento sem estar dirigindo é ainda pior, eu acho. Quando é você no volante, ainda tem a distração de tentar acertar a fila que está andando mais rápido. Tudo bem que, toda vez que a gente muda para ela, num passe de mágica, tudo trava. Mas, pelo menos, é uma distração.
Na última semana vivi o cenário mais chato que o chato. Estava com Pedro voltando do dentista, e o motorista do aplicativo tentou fugir de um engarrafamento indo por uma via marginal, que estava ainda mais engarrafada. Foi justo na hora em que começou Fluminense x Chelsea pela Copa do Mundo de Clubes. Coloquei o jogo no celular para Pedro ver e, como não consigo olhar o celular com o carro em movimento (senão fico tonto), passei a tentar me distrair com o que via do lado de fora.
Não demorou muito para uma placa me chamar a atenção. Era uma região com duas faculdades e várias barraquinhas em frente. Em uma delas, da cor do céu em um dia ensolarado, três ou quatro mesinhas e um aviso grande na frente: “Pagamento antecipado.”
Se tem aviso, tem caso, pensei. Imaginei logo o horário de almoço com o espaço lotado de estudantes pedindo o prato do dia. E o risco do calote de quem tenta ser mais esperto que o mundo.
Não dá para saber se ela organiza bem ou mal as finanças, se faz isso ou aquilo, mas pela concentração e serenidade que a cena transmitia, arrisco dizer que o que ela tinha ali era suficiente para que pudesse dominar as finanças do negócio dela.
Poderia melhorar? Sempre dá para melhorar. Mas seria uma melhoria a que custo? Implementar uma planilha? Um aplicativo? Um sistema para gerir tudo ali? Pode ser. É o que a gente costuma pensar quando se fala em profissionalizar. Mas… a que custo?
Será que a tecnologia seria efetiva para aquela barraquinha? Ajudaria ou atrapalharia?
A tendência é pensar que seria mais fácil, mais rápido, com um controle mais eficiente. É isso que geralmente associamos ao uso da tecnologia na gestão financeira. Na teoria, sim. Mas na prática, nem sempre.
Digo isso tanto para a gestão do lado profissional quanto do lado pessoal. O uso da tecnologia carrega consigo um charme a mais. Programa, aplicativo, planilha, aquelas telas coloridas, gráficos subindo e descendo, uma visão de brilhar os olhos. Só que nem sempre vai ser tão efetivo. Por vezes, esse “algo a mais” vira uma distração, um problema, mais um item para se preocupar, o que rouba o tempo de atenção para o que interessa de verdade. No caso daquela barraquinha, por exemplo, o tempo de comprar o material e preparar as refeições.
Pelo contato com as pessoas nos atendimentos, palestras, rodas e outros eventos, vejo que a procura pela tecnologia acontece muitas vezes por achar bonito. Lembro de uma cliente que comentou algo assim: “Quando vi tudo ali no aplicativo, achei lindo. Quero usar também.” Atendi o desejo, mas ela mudou de ideia com menos de duas semanas.
E aí não adianta ter a melhor tecnologia se ela não for efetiva. Vai atrapalhar, vai travar, não vai durar.
Que fique claro: não é um problema usar tecnologia. O problema é usar aquilo que não faz sentido para você. A gestão financeira precisa ser simples, prática, eficiente e, principalmente, duradoura. Se não resistir ao tempo, não funciona.
Cuidar do dinheiro pode ser eficaz de diversas maneiras. Do último aplicativo lançado à forma analógica. O que importa é encontrar uma forma que funcione para você. Porque, em tempos de muita tecnologia e inteligência artificial, papel e caneta ainda podem ser mais do que suficientes.
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